quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pesquisando a cor, com Henri Matisse




Henri Matisse _ imagem encontrado pelo Google

Pesquisando cor e movimento



Henri Matisse, A Dança _ foto encontrada no Google

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Compreensão


Velhice não é doença, mas estado com efeitos colaterais.

Não chie




Nasci numa família com tanta gente, ninguém olhava para ninguém. Éramos sócios e iguais. Quando nos cruzávamos no estrangeiro, no entanto, pairava um reconhecer, como entre as formigas. Cada qual voltava ao formigueiro.


sábado, 17 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Queridos blogueiros

Estivemos juntos em 2011, ano que acaba. O tempo, no entanto, continua. Que mistério humano acabar-continuando. A vida ávida e sem pressa é paradoxal, para ela não há tempo.

Releio “A imitação da rosa”, de Clarice Lispector, autora recém-nascida em cada sentença/frase. Suas “frases” nunca seriam “sentenças”, pois, ela busca a abertura, não o fechamento. (Brinco com trocadilhos).

Precisamos uns dos outros. Preciso de vocês, cada um de nós é uma rede. Somos redes. Bom natal e um 2012 com muita vida.

domingo, 27 de novembro de 2011

Estiagem


Queridos blogueiros,


fim de ano. sinto-me em deserto onde parece, nada brota.
o atravessador da foto vive o processo de se tecer.
que cada um de nós possa se fiar e à própria vida, em 2012, e suportar os tempos de estiagem. grande abraço e saudades!

sábado, 22 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Da série "Delírios"

Blogueiros; ainda os "atravessadores". Somos feitos de travessias. Atravessamos momentos, fases, épocas... Somos atravessadores.
Meu momento? São tantos! Vivo intensamente o cotidiano. Batalhas. Pagar uma conta, por exemplo, pode ser uma epopeia:
a greve nos correios. E se a conta é o plano de saúde da mãe que entregou tudo a você? Se você pensa por ela e etc?! Bem... a luta. Em palavras cruzadas quando você luta muito _ a palavra "costuma" ser "a lida"; diria eu: a labuta.
Somos ou não humanos? Diria somos.
Muitos risos. Se a gente não rirmorre.
Nem se for de tédio.
Ou de raiva. muitos risos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 2 de outubro de 2011

Em papelão _ acrílico

No atelier do meu professor encontrei este papelão/papel.
Aproveitei e trabalhei assim, como mostro agora a vocês, meus parceiros blogueiros.
São trabalhos.
E aprendizagens.
Compartilho com a maior alegria.
Boa noite de domingo, e ótima semana a todos os queridos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Histórias de Ventania

meu primeiro livro; Olga Savary a quem Massao Ohno pediu para escrever o prefácio me avisou da alegria mágica de lançar o primeiro livro.
Todo o processo da escrita de Histórias de Ventania foi mágico;
alguns capítulos foram trabalhados emcima de sonhos noturnos; no lugar de restos diurnos, trabalhei com restos noturnos :).
Massao Ohno foi um editor muito especial; foi ele quem propoz o título; e acertou, porque se trata de contos que entram uns nos outros, e se passa na cidade mítica de Ventania. Massao Ohno escolheu a capa; há uma personagem chamada Olga do Lago que me apresentou à Olga Savary, muito querida.
Enfim...algumas histórias de mim para os blogueiros.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

POÉTICA _ 2009, papel de algodão, acrílico, Eliane Accioly

a ponte para a nau é o convite:

trôpega ergue as âncoras
e desde então aporta cais
enseadas
ilhas contingentes

 abastece o lar errante:
frutos do mar e da terra
água doce,
passos deixando traços

passageira, mapas piratas
caminho anônimo,
seu cotidiano              


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

para a conterrânea líria porto



andorinhas estão em toda parte
no mundo inteiro

até em araguari

(o blog de Líria Porto Tanto Mar está linkado aos meus blogs; vale visitar)

sábado, 27 de agosto de 2011

Sons da vida



constato
e lembro


em vezes canto
e pássaros


em outras, sinos

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ideia

Os últimos dias
de Pompéia:

enquanto tecermos
feiras

teremos ceias
em piracemas


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para Hugo Nofx, que sabe rir _ As equilibristas

Mulheres contemporâneas,  as equilibristas, o que vivem e dizem quando podem:

_ Haja símbolos!!!
_ Fazer amor? Como? Onde?
_ Ah, ganhar $$$$$$$$$$$$$$$$
_ Educação dos filhos.
_ Orçamento doméstico.
_ Relações com o trabalho, suor.
_ Eu e a Barbie Sereia.
_ Quero um copo d´água.


(Para Hugo Nofx _ uma cartografia de 2003)



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Amo esse Blog

Oferecido por Marly Boldori

domingo, 17 de julho de 2011

Sopro



morro e renasço

sexta-feira, 17 de junho de 2011

ANIBAL, o BÁRBARO

VIVER ACABA
A VIDA NÃO


NA BATALHA DE MINHA MORTE
 EM SEU CURSO
A VIDA CONTINUA


DISPENSAR
NÃO ME DISPENSA,
E SIM, PRESCINDE DE MIM


A VIGANÇA de FENIX

Segue o pássaro até o ninho, cobiça os ovos. E se possível aprisionar a ave. Pela raridade do bicho guarda a ideia em segredo, não quer rival. Por causa do tamanho e bravura teme admira e
ambiciona o ser emplumado, olhando-o em surdina, de longe.


_ Com asas assim poderia voar?
Não, não, me bastaria comer os ovos,
ai ai, e seria um gigante alado.

Em algumas semanas caem-lhe unhas cabelos braços pernas. Fígado ruído, Gonçalo sucumbe à gravidade.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

MÉTODOS

Se me pergunto
_ por que?

Abstrata,
especulo e me perco

Quando vivo, experimento
e me pergunto

_ Como estou?
Então, constato




sexta-feira, 3 de junho de 2011

No reino dos samurais
há um riacho
e um caminho de areia


Ali, pedra
é bambusal





Navegantes _ brincando de rascunhar



Ai de mim, Úrsula
gregária e caseira

Hoje sou mar a dentro
ínsula
não tenho bóia
nem península

e o pior,
sou palavras
mar-a-dentro
tenho medo

quarta-feira, 1 de junho de 2011

MEMÓRIAS

Vejam o comunicado do google para desenvolvedores, que é uma função que desempenho, eu não tinha acessado o forum de desenvolvedores, mas agora acessei e vi a mensagem:





"Funções do blogger desativadas, estamos trabalhando para resolver o colapso. Mensagens foram apagadas e funções foram desativadas, mas em breve teremos respostas."


Eu observei que isso ocorreu no mundo todo, pois vejam essa notícia na Espanha:


Durante las últimas horas se ha reportado que los "Seguidores" de algunos blogs no estan apareciendo; al parecer el problema no tiene que ver con si se han añadido desde el gadget de seguidores de Blogger o desde Google Friend Connect, y aunque no sucede en todos los blogs parace ser un problema general.


Em seu fórum de ajuda, a companhia informou seus clientes sobre o problema com um comunicado; “Como resultado, os post e comentários de todos os usuários feitos depois das 7h37 da manhã no horário da Califórnia, em 11 de maio de 2011, foram removidos.” E no Twitter, a empresa ainda informou que; “Nós estamos fazendo progressos e esperamos que o serviço voltasse ao normal logo, o Blogger continuará em modo de leitura até que os trabalhos estejam completos, assim, pedimos desculpas aos transtornos”.







sábado, 14 de maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Variações em torno de um guarda chuva



Comecei a desenhar por volta de 2003. Antes nem imaginava possível.
"Variações em torno de um guarda chuva" data dessa época, sendo de meus primeiros desenhos.
A arte, segundo Kandinski é uma experiência espiritual, (sem nada de misticismo). E segundo o mesmo artista todas as formas de arte estão ligadas entre si. A vida as permeando todo o tempo.
Encontro interlocutores e intercessores em vários artistas, escritores e pintores, afinidades eletivas. A música, embora esteja em mim, ainda é muito misteriosa. Sinto-a, experimento-a, mas não tenho palavras, pelo contrário, só posso gritar BRAVO!!!!!! quando uma música me emociona.
Para mim, a prática da psicanálise é permeada pela arte em todas suas formas, pelo mito, sonhos. E essencialmente pela vida.
Minha principal função enquanto terapeuta é estar viva e na vida ao atender meus pacientes. Por incrível que pareça estar viva e na vida é amor.

sábado, 30 de abril de 2011

PAUL KLEE

Ficheiro:August Macke, Zeichnung Paul Klee, 1914.jpg



AUTO RETRATO
IMAGEM DO GOOGLE


Leio "Klee", by Susanna Partsch, Taschen.
Minhas primeiras leituras deste artista, que começou como músico, violinista e talentoso.
Seus pais foram músicos.
O pai era alemão, e apesar de morar na Suiça,  
ali constituindo família, nunca deixou de ser alemão.
Mais tarde, na época da segunda guerra, Paul Klee requereu a cidadania suiça, só a recebendo seis dias após sua morte. As autoridades do país consideravam incompreensível sua arte.
Desenhou desde criança, e deste ponto partiu para as artes plásticas.
Perseguiu a cor, no plural. Foi após uma viagem à Tunisia, que escreveu que a partir de então, as cores estavam nele.
Muito surpresa ao conhecer um pouquinho  histórias de Paul Klee e de  sua vida.

Klee escreveu teorias, pensou a arte.
Uma vida coerente e contra a corrente.







quinta-feira, 28 de abril de 2011

CARTA DE PAUL KLEE AOS SEUS TRÊS GATOS



"Queridos Nuggi, Fritzy e Bimbo:



Chegado ao fim da minha vida, dirijo-vos esta carta para vos dar conta da importancia que tiveram no meu atribulado percurso como pintor.
Creio que não teria chegado onde cheguei como artista do meu tempo sem o vosso amor e a inspiração que nunca me regatearam.
Fiz questão de vos manter presentes em tudo quanto fiz, desde as cartas aos poemas, passando, naturalmente, pelos quadros em que tentei modestamente representar-vos.
Vocês acompanharam-me nas horas de sofrimento e incerteza, de exílio e de privação, mas também naquelas que me deram a ilusão da felicidade. Primeiro o meu querido Nuggi, cinzento e meigo, ainda nos anos da juventude; depois, Fritzy, tigrado, brincalhão e matreiro a que tambem chamei Fripouille, nos tempos mais intensos da criação pictórica e tambem do reconhecimento artístico pelo público e pela crítica; por fim, Bimbo, branco e discreto, já nos anos da doença e da decadência física, sempre dedicado, sempre presente, sempre terno e atento.
Devo confessar que sempre vislumbrei em vós um toque do sagrado, porque não hesito em considerar-vos seres divinos, que eu não fui capaz de retratar com o talento nas telas e nos desenhos em que vos tentei eternizar. Sim, é verdade que vos escrevi cartas, sobretudo a Bimbo, já no fim da vida, e que não tinha sossego nos meus telefonemas sempre que me diziam que algum de vocês estava doente ou andava fugido. Isso nunca foi uma fraqueza minha e sim uma das principais manifestações do amor que consegui compartilhar com outros seres.
Ainda assim, alguns dos quadros de que mais gosto são precisamente aqueles em que vos reservei lugar, com títulos como O Gato e o Pássaro ou A Montanha do Gato Sagrado. Os gatos ajudaram tambem a fortalecer amizades com artistas e poetas que comungavam comigo esse amor e essa admiração irrenunciáveis. Foi o que aconteceu com Rainer Maria Rilke. Até isso eu vos fiquei a dever, tributo reservado a um pintor que tentou estar sempre à altura da vossa ternura e infinita capacidade de dádiva.
Agora que estou de partida, levo comigo a recordação do que vocês foram para mim e a convicção de que não teria sido o que fui, nem teria chegado onde cheguei, sem o vosso amparo e dedicação. No meu íntimo, sei que voltaremos a encontrar-nos, porque não pode acabar no perecível mundo material e terreno um amor como o nosso.


Eternamente vosso


PAUL KLEE"

(in Amados Gatos de José Jorge Letria-Oficina do Livro)

(Carta e imagem retirados no Google)

sábado, 23 de abril de 2011

CORREDORES




Tem dia me sinto em filme feito de imagens e silêncio, cor pastel como as do cerrado. A sobra do bacalhau da sexta feira da paixão rendeu um espagueti para nós dois. Abrimos um vinho tinto. A madeira da mesa a louça antiga semi desbotada minha saia florida sua bermuda azul. E nos corredores da vida não corremos demoramos e restamos luz de interiores. Vivemos, só isto. É tão intenso que me sinto num filme, imagem tempo. O almoço acaba a vida continua.



sexta-feira, 15 de abril de 2011

PARA JAIME _ de ARTEBAIÃO


Quando a vida me perpassa
memórias do amanhã
sou rio
horizonte
sou  um triz

E às vezes nem há eu
há imagens cor de rosa e sépia

sábado, 9 de abril de 2011

Escrever, um laboratório




Escrevo e reescrevo
e em cada reescrita
um outro texto.

Talvez uma crônica



Etimologicamente a palavra testemunha significa a presença de alguém em corpo e alma, em algum lugar e com alguém na duração de um acontecimento. Testemunhar se faz com os sentidos sentimentos sensações. Testemunhar é perceber e tomar consciência do que se vive ou viveu, do que acontece ou aconteceu.


Escrever é risco, deixar pegadas, pois, para encontrar sentido no ato de escrever escrevemos para o outro. Vivemos paradoxos, porque mesmo escrevendo ficção, nas entrelinhas oferecemos depoimentos e testemunhos: um olhar.
Por outro lado, se escrever é oferecer memória, e se esta é da ordem da ficção, o escritor é feito de paradoxos, pois, enquanto  ser humano, ele é da ordem da ficção.
Testemunhas um do outro, o escritor e o leitor.











REFLEXÕES


POR QUE ANDAMOS NÚS?
PORQUE NÃO SABEMOS
QUE SOMOS NÚS

COM A LÃ DO NOVELO
TEÇO MEUS PÉS
O CHÃO
E  A DOR DE COTOVELO

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A COLECIONADORA DE LAGARTAS


a menina alimenta
 os bichos tecem
casulos dormem

em certos dias
borboletas voam
no céu do quarto

terça-feira, 5 de abril de 2011

MEMÓRIA


Descubro as coisas quando as vivo e as experimento.
Descubro de uma maneira vivida que nós somos nossa memória, lembranças, resgistros.
Nossa memória passa pelo coletivo, mas caminha para o que cada um de nós vive em sua vida.
Ou seja, os acontecimentos e processos que perpassam nossas vidas, desde que conseguimos nos lembrar.
Alguns precocemente, outros bem mais tarde.
Precisamos de nossa memória para ter uma coerência e linha de continuidade em nossa vida.
Apenas para contar o que descobri.
O ovo de Colombo. 

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os atravessadores


ATRAVESSO A VIDA
A VIDA ME ATRAVESSA:
NOVELO E NOVELA

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sherazade


Caiu na rede,
e para viver mais um dia
toda noite conta uma história:
" Era uma vez uma aranha rica em pernas, e..."

Agradecendo aos companheiros
e celebrando a vida.
Que sejamos muitos!
Um abraço

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Fotos

Mãe sonha o bebê





Que delícia de filhote
o cheirinho me encanta
o meu gatinho ressona

No bebê dorme o menino
vejo suas travessuras
e o rapazote teimoso

Leite pejando o peito
sonho o meu pequeno
e no rito de seu riso
escuto

_ Serás a minha velhinha

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um recado aos cúmplices-blogueiros


Este blog não quer polemizar, e sim compartilhar,
criar territórios lúdicos, na medida do possível.
Lúdico não quer dizer suferficial, pelo contrário,
a ludicidade oferece possibilidades de aprofundar questões
que por outras vias, quem sabe, correríamos riscos de fechar.

As questões pertinentes à religião são de outra ordem,
há em mim o temor respeitoso pelo sagrado.
Respeito profundamente as pessoas em suas crenças,
 está em minha natureza.

Meus caminhos lúdicos estão na arte em suas interseções com a vida,
com os acontecimentos no mundo, e o que me afeta.
Sou todo o tempo afetada pelo que acontece ao redor de mim,
desde os mais remotos rincões da terra,
até os mais próximos, a casa ao lado da minha,
as ruas pelas quais caminho.

Nosso mundo neste momento me parece um caldeirão!
Admiro o movimento pacífico de jovens que buscam a dissolução das ditaduras
em seus países.
Ando muito impressionada com a força que leva à quedas em efeito dominó,
assisto ao pavor de homens que se consideravam acima de tudo e de todos,
inclusive nomeando os herdeiros de seus "reinados", filhos ou irmãos;
 chocada com a vilolência da repressão contra o povo e os manifestantes.

Preferi retirar o post da resenha do filme "O ritual"
em respeito a cada um dos blogueiros, com os quais troco;
guardo agradecida os comentários do Jorge;
escrever é solitário; cada leitura é um olhar,
um se deter em fragmentos que rabisco, um carinho que recebo.

Meu abraço,
 e minha humanidade, cheia de contradições,
alegrias e dores

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eles, os personagens



Os "atravessadores" vieram ao mundo para evoluir,
se transformar.
Andam em bando ... "tarsilas", "carolinas", "quixotes", "alicias"...
tantos outros.
São indomáveis.
Apontam para "saídas", e principalmente,
contam que sempre existe uma que não seja a morte,
e pelo contrário,
a saída de lugares sufocantes para sítios amplos e arejados.
Contam também, que para sair do que quer seja, é preciso entrar.
Esses personagens estão se humanizando, bem... nunca completamente,
encontram jeitos de não se antropoformizar.
Não vieram do macaco como nós, homens e mulheres.
Nem de Adão e Eva.
Atravessadores não roubam a costela dos outros.
Acredito que não têm costelas.
Os "atravessadores" vivem em um mundo precário,
impermanente, inacabado, reciclável e interativo.
Amam os todos seres vivos, sem excessão.
Geralmente andam descalços.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Confusões de andarilha


O tempo não existe,
avisa o patriarca

mas e se o tempo
custa a passar?
se um dia voa
e em outro se arrasta?

Aérea e avoada
 não perdi o avião

mas  tempo
e  passaporte
perdidos

domingo, 16 de janeiro de 2011

Para além da dualidade, seres humanos, unidade múltipla e indivisível



Resenha de Eliane Accioly

de "O Lobo da Estepe",

de Hermann Hesse

Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979, 13° Edição

Tradução de Ivo Barroso

Evidentemente uma boa tradução é crucial para a leitura de autor de língua estrangeira. Não conheço Ivo Barroso, mas sua tradução me gratificou. Li com espanto todo o livro, leitura que me tomou, tanto que precisei parar colocando um intervalo entre algumas passagens, de tão densas. Não foram intervalos apenas de tempo, incluí outras leituras. Não necessariamente mais leves, apenas outras.

O tempo desta nova leitura de "O Lobo da Estepe", foi de quinze dias. Li o livro pela primeira vez em 1979, portanto, há trinta e dois anos. Certamente a leitura em 2011, foi uma outra, e sem dúvida, muito mais impactante, pois me parecia ler o livro pela primeira vez. Como se estivesse mais madura e preparada para receber este livro. E não como se..., estou mais madura e apta para essa leitura.

Me identifiquei com o Lobo da Estepe, suas dores e inquietações, seus sonhos e anseios, e o encontrar-se num "destino" sem saída, uma vida que não buscou, e para a qual, de certa maneira, foi empurrado. No livro o que se tratava, principalmente, era o fato de estar vivo e só. A personagem com cinquenta anos, uma idade nem tão avançada, aquela de Hermann Hesse quando escreveu este livro, sentia-se,entretanto, muito velho. Sofrendo de angústia, solidão, depressão, gota e enxaquecas terríveis, que feriam seus olhos e pareciam arrancá-los.

Ser um Lobo da Estepe não se trata apenas da dualidade homem-lobo, mas principalmente encontrar-se à margem das convenções "burguesas", das quais não conseguia, por outro lado, escapar completamente. Odiava o mundo burguês, e apesar dos pesares, precisava habitar este mundo, morando, por exemplo, numa casa alheia porém burguesa. O mundo do qual fugia, e com o qual se identificava. Não poderia viver num ambiente proletário, por exemplo, pois não se reconheceria caso o fizesse.

Amante da música e literatura a personagem precisava do contato com as artes, vivendo alguns momentos de êxtase, quando se sentia tocado pelo maior, momentos de transcendência e espiritualidade.

Num determinado ponto do livro a personagem revela que seria muito simplista ser apenas homem e lobo... Na verdade, (somos) múltiplos. Unidade complexa, com infinitos aspectos e facetas. Dar-se conta disto em si, leva alguém a estar alijado de um mundo convencional, para o qual, as pessoas precisam ser previsiveis. A percepção de que se é uma unidade múltipla exige renuncias e ao mesmo tempo, é a conquista de um caminho espiritual. Não de um homem em desespero _ embora viva momentos assim_ mas de alguém que crê e sonha.

Harry Haller, nome que aparece no meio do livro, descobre que o ego e a personalidade não passam de ficção, e que na verdade cada ser humano possui muitas almas. Pode ser homem, mulher, velho e jovem, animal e imortal _ como os grandes artistas, que nunca perecem...

Harry Haller (Hermann Hesse?!) se pergunta como a ciência se arranjaria com a "invenção" da esquizofrenia...ou seja, as divisões que levam ao adoecimento gravíssimo de se isolar da vida. A unidade múltipla das incontáveis almas, entretanto, não é divizivel. É multipla e coesa. Não é doença, mas a condenação de estar frente à vida, de ter como única tarefa estar vivo, experimentar sofrimentos profundos _ noites escuras da alma, e os inúmeros momentos luminosos.

Possuir/ser inúmeras almas _ tarefa de difícil administração _ segundo Harry não é intrínseco à humanidade, porém pode ser intuído e perseguido, e ao que parece, conquistado.